20 junho, 2013

1 | E no princípio era... o amor de Deus


Se fosse possível resumir toda a Palavra de Deus num único versículo, o escolhido de muitos seria certamente João 3:16: “…Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna.” (BPT). Toda a Bíblia nos conta a história do amor de Deus pela humanidade que Ele criou, a começar na criação, passando pela redenção e terminando na vida eterna que nos foi prometida. E a mais alta prova do amor de Deus foi a dádiva do seu único Filho, Jesus Cristo, o qual também nos amou e se deu a nós e por nós.

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Pensando por onde deveria começar se quisesse escrever algo para compartilhar a fé em Jesus Cristo, logo me ocorreu iniciar pela demonstração da capital importância da Palavra de Deus, a Bíblia. Com efeito, desde cedo na fé cristã aprendemos ser a leitura e meditação nas Escrituras um aspeto fundamental da vida cristã, o que sem dúvida é uma verdade essencial. Mas, enquanto pensava nisso, veio ao meu coração recuperar das prateleiras alguns antigos livros adquiridos por alturas da minha conversão a Cristo, o que fiz.

De entre outros, um pequeno livro prendeu-me a atenção, cujo título é “O caminho para Deus e como encontrá-lo”, publicado em 1986 pela ‘Livraria Esperança’, da autoria de D. L. Moody (trata-se de uma compilação dos seus mais marcantes sermões feita pela editora ‘Moody Press’, e cuja edição original foi publicada em inglês em 1884).

Logo a abrir o primeiro capítulo refere Moody que, se lhe fosse dado fazer com que a humanidade compreendesse o verdadeiro significado das palavras registadas pelo apóstolo João “Deus é amor” (1Jo 4:8,16), pegaria nesse único versículo e percorreria todo o mundo proclamando essa verdade! E continua o sermão discorrendo acerca do amor de Cristo que excede todo o entendimento…

…Refletindo sobre isso, desisti da ideia inicial de falar sobre a autoridade da Bíblia (lá iremos depois), e comecei então a pensar: se fosse possível resumir toda a mensagem da Bíblia num só versículo, qual seria ele? E, voltando em pensamento aos tempos de início da minha fé, recordei-me das singelas aulas de escola dominical onde terei ouvido pela primeira vez este texto do Evangelho segundo o apóstolo João:

“…Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3:16, BPT)

De facto, se nos fosse possível resumir toda a Palavra de Deus num único versículo, este seria provavelmente o escolhido, o que a par do citado por Moody, consubstancia a mais importante mensagem da Bíblia, e a mais profunda revelação acerca de Deus: Deus é amor, e no seu imenso amor entregou o seu único Filho, o qual, também por amor e escolha própria, deu a sua vida em resgate da nossa. E esta verdade, estou convencido, atravessa as Escrituras desde Génesis até Apocalipse, sendo central para se conhecer a Deus e compreender as suas obras.

Uma pesquisa feita com a palavra ‘amor’ na versão NVI da Bíblia (através de BibleGateway.com) devolveu 367 versículos, isto sem considerar palavras derivadas como ‘amar’, ‘amou’, ‘amarás’, ‘amado’, etc. Não posso deixar de registar aqui alguns dos que considero mais marcantes - desculpem se as citações são longas, mas não consigo omitir mais versículos (a versão utilizada será a NVI, exceto onde referido diferente).

Do Novo Testamento (para além de João 3:16, já citado):

[Jesus a falar] “Como o Pai me amou, assim eu os amei; permaneçam no meu amor.” (Jo 15:9)

[Jesus a falar] “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos.” (Jo 15:13)

“…porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.” (Rm 5:5)

“Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores.” (Rm 5:8)

“…nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8:39)

“…E o Deus de amor e paz estará com vocês.” (2Co 13:11)

“Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, …” (Ef 1:5)

“…Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, …” (Ef 2:4)

“…E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3:19, ACF)

“…quando apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador e o seu amor para com os homens…” (Tt 3:4, ARA)

“Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus, o que de fato somos!...” (1Jo 3:1)

“Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós…” (1Jo 3:16)

“E neste ato ele [Deus] revela o que é o verdadeiro amor: não por causa do amor que tivéssemos por Deus, mas porque ele nos amou a nós e enviou o seu Filho, o qual expiou o castigo dos nossos pecados para que fôssemos perdoados.” (1Jo 4:10, OL)

“Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor. Deus é amor. Todo aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.” (1Jo 4:16)


Mas se, eventualmente, pensávamos que a mensagem do amor de Deus estaria apenas presente na Nova Aliança, aqui vão alguns textos retirados do Antigo Testamento:

“Mas tu és um Deus perdoador, um Deus bondoso e misericordioso, muito paciente e cheio de amor. Por isso não os abandonaste, …” (Ne 9:17)

“Como é precioso o teu amor, ó Deus! Os homens encontram refúgio à sombra das tuas asas.” (Sl 36:7)

“Mas tu, Senhor, és Deus compassivo e misericordioso, muito paciente, rico em amor e em fidelidade.” (Sl 86:15)

“Ponha a sua esperança no Senhor, ó Israel, pois no Senhor há amor leal e plena redenção.” (Sl 130:7)

“…O seu amor dura para sempre!” (Sl 136:1-26) [esta frase ocorre dezenas de vezes nos Salmos e só no capítulo 136 ocorre 26 vezes]

“Em toda a aflição do seu povo ele também se afligiu, e o anjo da sua presença os salvou. Em seu amor e em sua misericórdia ele os resgatou; foi ele que sempre os levantou e os conduziu nos dias passados.” (Is 63:9)

“Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.” (Lm 3:22)

[Deus a falar] “…Eu os conduzi com laços de bondade humana e de amor; tirei do seu pescoço o jugo e me inclinei para alimentá-los.” (Os 11:4)

“…Voltem-se para o Senhor, o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor; …” (Jl 2:13)

“…‘Eu sempre os amei’, diz o Senhor.” (Ml 1:2)


E muitos mais excertos da Bíblia poderiam citar-se, com referências diretas ou indiretas ao amor de Deus. Aliás, a primeira história das Escrituras, a que narra a criação do ser humano, estou convencido que é a primeira narrativa sobre o amor de Deus em ação. E por que é que digo isso? Bom, lembram-se quando nos nossos púlpitos se faz a pergunta “porque é que Deus criou o ser humano?”, e logo obtemos respostas como “para O servir”, “para O adorar”, ou semelhantes? Até aqui tudo bem, isto é correto, Deus espera isso de nós… mas terá sido exatamente por isso que Deus nos criou?... Eu acho que estas respostas ficam aquém da verdade total, senão vejamos:

Pergunto a quem tem filhos, quando vocês decidiram ter filhos foi porque esperavam que um dia eles vos servissem, ou para que em algum momento tirassem algum proveito deles?... Ou foi porque, ainda mesmo antes de eles existirem, vocês os amaram e desejaram cuidar deles, vê-los crescer e fazer parte da vossa família? Ora, parafraseando a Escritura, se nós que, por natureza, somos maus, ainda assim queremos boas coisas para os nossos filhos, esperaríamos então que Deus fosse pior do que nós?... Daí estar convencido que Deus nos criou simplesmente por amor, porque nos amou ainda antes de existirmos, e não por qualquer outra razão, e que tudo o mais é simplesmente a nossa resposta (esperada, é certo!) ao seu amor.

Digamos que a criação poderia ser assim contada: o Pai tinha um Filho, Jesus, o seu único filho gerado, ao qual eternamente amava, e em união com o Espírito Santo desejou trazer para esta comunhão de amor mais filhos. Assim Deus (o Pai, o Filho e o Espírito) decidiu: “Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança… e homem e mulher os criou”!

Poderá pensar-se: pois está bem, é uma história simpática, mas não tem corroboração na Palavra, porque não existe nenhum texto bíblico que o diga... De facto, até hoje, até ao momento em que estava a pesquisar para escrever estas linhas, nunca me tinha apercebido de nenhum versículo que o dissesse de uma forma direta, estava convencido desta ideia por via de uma interpretação geral e integradora da Bíblia. Mas, não é que nos excertos apresentados acima um versículo em particular chamou-me à atenção:

“Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade, …” (Ef 1:5)

E, lido no contexto, numa tradução mais atual, ainda se torna mais claro:

“Pois, antes de o mundo existir, ele escolheu-nos para juntamente com Cristo sermos santos e irrepreensíveis e vivermos diante dele em amor. Ele destinou-nos para sermos seus filhos por meio de Cristo, conforme era seu desejo e vontade, para louvor da sua graça gloriosa que ele gratuitamente nos concedeu no seu amado Filho.” (Ef 1:4-6, BPT)

Note que Ele (Deus) decidiu escolher-nos como filhos antes do mundo existir, para vivermos diante dele em amor, por meio do seu amado Filho (Jesus). Não sei se estarei a conseguir expressar totalmente o quanto isto se tornou de repente claro, mas está lá, sempre lá esteve!!!

Aliás, agora que reflito sobre isso, lembro-me de um outro excerto no mesmo sentido:

“Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; …” (Rm 8:29)

Nós, que Deus de antemão conheceu, fomos predestinados para sermos filhos de Deus e irmãos de Jesus (por favor não entenda a expressão ‘predestinados’ como manipulação do livre arbítrio humano, apenas significa que Deus juntou ao seu desejo uma ação para nos fazer filhos seus).

Amigos, a minha convicção é que esta é a mensagem central do Evangelho, o amor do Pai, amor esse que não ficou contido num mero desejo ou sentimento, mas que se transformou em ação, preparando a história da humanidade para a vinda de Jesus, e intervindo na história de cada um para nos colocar na posição de tomarmos a decisão de O (Jesus) aceitar ou recusar.

E para aqueles que O decidiram aceitar (em bom rigor, que O não recusaram), foi o amor do Pai derramado nos seus corações, cabendo-lhes tornarem-se participantes da sua natureza divina, realizando as mesmas obras que Ele fez!...

…Mas isto será tema para futura reflexão. Até lá, se Deus quiser.