Ao terminar o primeiro ensaio destas reflexões, acerca dos versículos “Deus é amor” (1Jo 4:8,16) e “…Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16), deixei este pensamento: "...E para aqueles que O decidiram aceitar (em bom rigor, que O não recusaram), foi o amor do Pai derramado nos seus corações, cabendo-lhes tornarem-se participantes da sua natureza divina, realizando as mesmas obras que Ele fez!...". Assim, ao retomar estes modestos apontamentos, vamos refletir acerca de qual é a resposta que Deus espera (e ardentemente deseja) de nós face ao seu imenso amor que demonstrou por nós.
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“Aproximou-se dele [de
Jesus] um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia
respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
Respondeu Jesus: O primeiro
é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor
teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento
e de todas as tuas forças.
E o segundo é este: Amarás
ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.
Ao que lhe disse o escriba:
Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele [Deus] é um, e fora dele não há
outro; e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as
forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e
sacrifícios.” (Mc
12:28-33, ARA)
Neste
texto, e se lermos o enquadramento, ficaremos a saber que Jesus tendo sido
questionado por alguém deu, como sempre acontece, uma resposta sábia que
impressionou um dos escribas presentes (que no contexto da história aparenta
tratar-se de alguém sincero), o qual lhe perguntou sobre qual seria o maior
mandamento de todos. Note que este homem, que assim questionou Jesus, era um
escriba, ou seja, um homem estudioso e instruído na Palavra de Deus, o qual
certamente conheceria os textos sagrados, mas ainda assim interroga-se sobre qual
seria o maior mandamento...
Surpreendentemente,
Jesus não lhe responde citando nenhum dos ‘Dez Mandamentos’, antes vai buscar
uma outra passagem, a qual precede a proclamação dos mandamentos, e é retirada
de Deuteronómio 6:4,5:
“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças”.
“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças”.
E
continua dizendo: “E o segundo é este:
Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Lv 19:18)
Não
me parece que tenha sido por mero acaso, ou por estilo de linguagem, que Jesus respondeu
assim, antes considero ser possível encontrar pelo menos duas razões para esta
resposta: o facto de que no amor a Deus e ao próximo todos os mandamentos estão,
automaticamente, incluídos, por um lado; e por outro lado, o facto de ser
possível cumprir todos os mandamentos e, ainda assim, nunca ter amado a Deus
nem ao próximo. Vamos então ver se a Bíblia dará cobertura a este entendimento.
Começando
pela última razão, na 1.ª carta de Paulo aos Coríntios 13:1-3 (ARA), encontramos
o apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, a escrever:
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.”
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.”
Então,
neste exemplo que é dado de máximo sacrifício e cumprimento de mandamentos,
Paulo nos diz que, ainda que alguém assim procedesse, se o fizesse sem amor, de
nada lhe aproveitaria. Resulta assim claro deste texto, e de outros excertos semelhantes
que cada um poderá pesquisar na Palavra de Deus, que zelo espiritual, cumprimento
de mandamentos, ou demonstrações de dons, de nada servem, a não ser que sejam
permeados, impregnados e saturados, do amor de Deus! E o apóstolo prossegue
nesse capítulo a descrever esse amor. É claro, e espero não ser mal
interpretado, que quem ama a Deus e ama ao seu próximo (ao seu semelhante,
homem ou mulher, que com ele se cruza e interage) deve cumprir os mandamentos
de Deus. Apenas não o faz numa atitude legalista e desprovida de afeto ou
compaixão, mas antes o faz como a sua resposta natural ao amor que nele foi
derramado pelo próprio Deus, conforme expresso em Romanos 5:5 “…porque Deus derramou seu amor em nossos
corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.
E
isto leva-nos à primeira razão, a de que todos os mandamentos de Deus
estão, por natureza, incluídos em amar a Deus e ao próximo. Como ouvi há pouco
um jovem dizer, se amamos alguém queremos o melhor para essa pessoa, não a
queremos ofender, nem defraudar, nem entristecer, nem coisa má alguma, só queremos
para ela o melhor do melhor!
E
isto levar-nos-ia um pouco mais longe, a uma outra constatação. A de que a
primeira parte da resposta de Jesus provavelmente já bastaria, aquela onde Ele
diz: “…Amarás ao Senhor teu Deus de todo
o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as
tuas forças”. Com efeito, se amarmos a Deus como ali é dito, e se
compreendermos, conforme vimos nas reflexões anteriores, que Deus é amor
e que Ele ama profundamente cada homem e mulher, não podemos deixar, também
nós, de amar o nosso semelhante. Assim, a segunda parte da resposta de Jesus
acabaria por ser redundante, mas como Jesus conhece bem a nossa natureza,
tendencialmente má, não deixa de acrescentar para que ficasse claro e inequívoco
para todos: “E amarás ao teu próximo como
a ti mesmo”.
Fazendo
isso, tornamos-nos participantes da natureza de Deus, e da sua bondade, assim como
diz a Escritura, “…para que vos torneis
filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre
maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.” (Mt 5:45, ARA). E em
outro lugar: “Nós amamos, porque ele nos
amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso.
Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não
viu. E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão.”
(1Jo 4:19-21)
Ora,
resulta assim que devemos amar ao nosso semelhante, independentemente do juízo
de valor que façamos sobre a pessoa, e que quem não ama o seu próximo também
não ama a Deus. Ou dito pela positiva, o amor a Deus nos constrange ao amor ao
próximo, o qual se evidência em ações práticas a favor dos que nos rodeiam, pelas
quais demostramos que somos participantes da sua (de Deus) natureza e das suas
obras.
...E não
me vou alongar muito mais, alguns leitores das primeiras reflexões acharam-nas
muito extensas, vou procurar ser mais contido e sintético, na certeza porém que
não farei destes apontamentos qualquer coisa semelhante a “fast food” (comida rápida).
Voltaremos então em breve, se Deus quiser.