27 junho, 2013

2 | E Deus derramou seu amor em nossos corações


Ao terminar o primeiro ensaio destas reflexões, acerca dos versículos “Deus é amor” (1Jo 4:8,16) e “…Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crer não se perca, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16), deixei este pensamento: "...E para aqueles que O decidiram aceitar (em bom rigor, que O não recusaram), foi o amor do Pai derramado nos seus corações, cabendo-lhes tornarem-se participantes da sua natureza divina, realizando as mesmas obras que Ele fez!...". Assim, ao retomar estes modestos apontamentos, vamos refletir acerca de qual é a resposta que Deus espera (e ardentemente deseja) de nós face ao seu imenso amor que demonstrou por nós.
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“Aproximou-se dele [de Jesus] um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.
E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.
Ao que lhe disse o escriba: Muito bem, Mestre; com verdade disseste que ele [Deus] é um, e fora dele não há outro; e que amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.” (Mc 12:28-33, ARA)

Neste texto, e se lermos o enquadramento, ficaremos a saber que Jesus tendo sido questionado por alguém deu, como sempre acontece, uma resposta sábia que impressionou um dos escribas presentes (que no contexto da história aparenta tratar-se de alguém sincero), o qual lhe perguntou sobre qual seria o maior mandamento de todos. Note que este homem, que assim questionou Jesus, era um escriba, ou seja, um homem estudioso e instruído na Palavra de Deus, o qual certamente conheceria os textos sagrados, mas ainda assim interroga-se sobre qual seria o maior mandamento...

Surpreendentemente, Jesus não lhe responde citando nenhum dos ‘Dez Mandamentos’, antes vai buscar uma outra passagem, a qual precede a proclamação dos mandamentos, e é retirada de Deuteronómio 6:4,5:

“Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças”.
E continua dizendo: “E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. (Lv 19:18)

Não me parece que tenha sido por mero acaso, ou por estilo de linguagem, que Jesus respondeu assim, antes considero ser possível encontrar pelo menos duas razões para esta resposta: o facto de que no amor a Deus e ao próximo todos os mandamentos estão, automaticamente, incluídos, por um lado; e por outro lado, o facto de ser possível cumprir todos os mandamentos e, ainda assim, nunca ter amado a Deus nem ao próximo. Vamos então ver se a Bíblia dará cobertura a este entendimento.

Começando pela última razão, na 1.ª carta de Paulo aos Coríntios 13:1-3 (ARA), encontramos o apóstolo, inspirado pelo Espírito Santo, a escrever:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.”

Então, neste exemplo que é dado de máximo sacrifício e cumprimento de mandamentos, Paulo nos diz que, ainda que alguém assim procedesse, se o fizesse sem amor, de nada lhe aproveitaria. Resulta assim claro deste texto, e de outros excertos semelhantes que cada um poderá pesquisar na Palavra de Deus, que zelo espiritual, cumprimento de mandamentos, ou demonstrações de dons, de nada servem, a não ser que sejam permeados, impregnados e saturados, do amor de Deus! E o apóstolo prossegue nesse capítulo a descrever esse amor. É claro, e espero não ser mal interpretado, que quem ama a Deus e ama ao seu próximo (ao seu semelhante, homem ou mulher, que com ele se cruza e interage) deve cumprir os mandamentos de Deus. Apenas não o faz numa atitude legalista e desprovida de afeto ou compaixão, mas antes o faz como a sua resposta natural ao amor que nele foi derramado pelo próprio Deus, conforme expresso em Romanos 5:5 “…porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.

E isto leva-nos à primeira razão, a de que todos os mandamentos de Deus estão, por natureza, incluídos em amar a Deus e ao próximo. Como ouvi há pouco um jovem dizer, se amamos alguém queremos o melhor para essa pessoa, não a queremos ofender, nem defraudar, nem entristecer, nem coisa má alguma, só queremos para ela o melhor do melhor!

E isto levar-nos-ia um pouco mais longe, a uma outra constatação. A de que a primeira parte da resposta de Jesus provavelmente já bastaria, aquela onde Ele diz: “…Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças”. Com efeito, se amarmos a Deus como ali é dito, e se compreendermos, conforme vimos nas reflexões anteriores, que Deus é amor e que Ele ama profundamente cada homem e mulher, não podemos deixar, também nós, de amar o nosso semelhante. Assim, a segunda parte da resposta de Jesus acabaria por ser redundante, mas como Jesus conhece bem a nossa natureza, tendencialmente má, não deixa de acrescentar para que ficasse claro e inequívoco para todos: “E amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.

Fazendo isso, tornamos-nos participantes da natureza de Deus, e da sua bondade, assim como diz a Escritura, “…para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.” (Mt 5:45, ARA). E em outro lugar: “Nós amamos, porque ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu. E dele temos este mandamento, que quem ama a Deus ame também a seu irmão.” (1Jo 4:19-21)

Ora, resulta assim que devemos amar ao nosso semelhante, independentemente do juízo de valor que façamos sobre a pessoa, e que quem não ama o seu próximo também não ama a Deus. Ou dito pela positiva, o amor a Deus nos constrange ao amor ao próximo, o qual se evidência em ações práticas a favor dos que nos rodeiam, pelas quais demostramos que somos participantes da sua (de Deus) natureza e das suas obras.

...E não me vou alongar muito mais, alguns leitores das primeiras reflexões acharam-nas muito extensas, vou procurar ser mais contido e sintético, na certeza porém que não farei destes apontamentos qualquer coisa semelhante a “fast food” (comida rápida). Voltaremos então em breve, se Deus quiser.